Mensagem de Páscoa do Superior Provincial
Começa um novo ciclo... (Cf. Jo 20, 1).
Era o Primeiro Dia da semana, bem de madrugada..., conforme lemos no Quarto Evangelho para a liturgia do Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor.
A expressão o “Primeiro Dia” nos reporta ao começo, ao momento presente, ao início de um novo ciclo. Neste sentido, é interessante recorrer a Santa Teresa de Ávila em sua célebre frase: “Agora começamos, estamos sempre começando, procuremos ir de bem a melhor”. A missão começa após a nossa participação diária no Mistério da Fé – Ite missa est (Mt 28, 8-19).
A simbologia do caminho nos chama a uma atenção especial para estarmos atentos ao momento presente, aquilo que nos circunda, que ocorre dentro de nós e ao nosso redor: Quem somos? Como estamos? Qual caminho estamos percorrendo? Viver o momento presente é de salutar importância para vislumbrarmos o significado da Ressurreição. O quem somos agora, neste exato momento, vai determinar como estamos e por onde estamos caminhando ou desejamos caminhar amanhã.
É Páscoa! E, como sabemos, a Páscoa é a vitória da vida sobre o pecado e a morte. Jesus de Nazaré, subiu a Jerusalém para enfrentar o calvário e a cruz, na esperança da Ressurreição.
Nos últimos tempos a humanidade tem sofrido o seu calvário e carregado a sua cruz todos os dias. É a realidade do momento presente que todos nós conhecemos e estamos cientes, pois passamos por muitas problemáticas humanas num tempo que tem gerado inseguranças, desequilíbrios e tensões em vários âmbitos, sobretudo no âmbito social, político, econômico e religioso, nas relações interpessoais, na saúde psíquica e espiritual. Mas, este não é o momento para fazermos análises de conjunturas, isto podemos fazer em outras ocasiões para não cometermos o pecado da indiferença diante das realidades atuais. Também, não desejamos nos somar ao coro dos lamentosos. É Páscoa! É o início de um novo ciclo, é o começo do caminho, é o Primeiro Dia.
Na convocação que o Papa Francisco fez a Igreja para preparação do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023, vemos a simbologia do Caminho, o caminho da Sinodalidade, da importância do “caminhar juntos” no momento presente que nos convoca a comunhão, participação e missão.
A Páscoa do Senhor nos convida a olharmos para o presente do nosso caminho, sermos também os madrugadores da Ressurreição, termos a coragem e a ousadia de olhar para dentro de nós mesmos e nos perguntarmos por Jesus Ressuscitado dentro de nós, na nossa mente e no nosso coração e assim rezarmos todos os dias, em forma de jaculatória: Senhor, que os teus sentimentos estejam no meu coração e na minha mente.
É urgente nos situarmos no presente da Ressurreição e da Vida. A paz que buscamos fora deve começar dentro, pois muitos corações e mentes estão em conflitos e guerras contínuas. Em um mundo tão conturbado é urgente nos desacelerarmos, a mente e o coração, nos calarmos interiormente, fazermos o silêncio que é capaz de gritar por um novo recomeço. Assim fizeram as primeiras comunidades cristãs, conforme o relato lucano dos Atos. As comunidades cristãs descobriram critérios claros para um bom discernimento e a Palavra de Jesus, transmitida pelos apóstolos sob o impulso do Espírito Santo ecoou nas mentes e nos corações daquela nova Igreja animada e fiel a doutrina transmitida pelos apóstolos.
Todavia, no espírito da Páscoa somos convidados a começar agora e seguirmos de bem a melhor o Caminho da Ressurreição e da Vida para não perdermos a conexão com a nossa interioridade, com a nossa capacidade de escuta de nós mesmos, dos outros e de Deus. É urgente nos escutarmos a nós mesmos para nos perguntarmos quem somos, como estamos e por qual caminho estamos seguindo: do passado, do presente ou do futuro? Estas perguntas podem nos trazer a resposta pela ansiedade contínua que temos pelo que virá, por nosso projeto de vida, pelo futuro próximo e o desejo de chegar à “terra prometida”. Cuidemo-nos e vivamos o presente, da Ressurreição ao Pentecostes, “com alegria e exultação, como se fossem um só dia, ou melhor, como um grande e único Domingo” (Cf. Diretório da Liturgia da Igreja no Brasil, Tempo Pascal, Santo Atanásio).
Entretanto, para não perdermos a direção do caminho, façamos um pouco do silêncio interior para nos salvarmos da dependência e da angústia do que virá. Páscoa é viver o momento presente de forma salutar, é contribuir com a vida do Planeta, é nos desintoxicarmos interiormente vencendo o grave pecado da autorreferencialidade, da preocupação excessiva, do medo e da incerteza da Ressurreição. Páscoa é nos perguntarmos por nossa saúde mental, física e espiritual. Páscoa é não desistir de ser bom para si mesmo e para os outros, é ressuscitar para novas formas de vida, é começar um novo ciclo (Jo 20, 1).
Respire e viva em paz, com saúde. É Páscoa! Pense, cante, na alegria do hoje pascal, pois amanhã será um lindo dia, amanhã está toda esperança... (Cf. Canção de G. Arantes, “Amanhã”).
Pela proteção de Nossa Senhora do Rogate, e a intercessão de Santo Aníbal Maria, apóstolo da Oração pelas Vocações, no espírito da Sinodalidade, desejo-lhes o maior bem, com copiosas bênçãos pascais.
Cordialmente,
Pe. Geraldo Tadeu Furtado, rcj
Superior Provincial